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Descoberto anticorpo especial com o potencial de tratar e prevenir a COVID-19

Descoberto anticorpo especial com o potencial de tratar e prevenir a COVID-19

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Pesquisadores da Universidade de Utrecht, Holanda, em um estudo publicado ontem no periódico Nature Communication (1), reportaram a descoberta de um anticorpo monoclonal completamente humano que previne o vírus responsável pela atual pandemia de COVID-19 (SARS-CoV-2) de infectar células humanas, pelo menos in vitro. O achado abre uma janela mais do que promissora de desenvolver uma via terapêutica baseada em um agente que oferece poucos riscos de efeitos colaterais e que pode tanto tratar  quanto prevenir a infecção pelo novo coronavírus.
A grave pandemia causada pelo SARS-CoV-2 já acumulou mais de 3,6 milhões de casos confirmados e mais de 252 mil mortes registrados. No Brasil, já são quase 108 mil casos confirmados e mais de 7,3 mil mortes. E esses números certamente estão muito subestimados (I). Até o momento, não existem tratamentos efetivos - apenas aparente eficácia limitada com o uso de remdevisir (II) -, e as vacinas, na melhor das hipóteses, ainda irão demorar no mínimo 1 ano para serem adequadamente testadas e disponibilizadas para uso em massa. No entanto, anticorpos monoclonais - proteínas produzidas em laboratório que podem se ligar a substâncias específicas no corpo (associadas a células ou não) - estão cada vez mais se mostrando uma promissora classe de medicamentos contra doenças infecciosas e têm mostrado eficácia terapêutica para um número de vírus.

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Anticorpos neutralizantes de coronavírus visam primariamente glicoproteínas triméricas spike (S) na superfície do vírus que media sua entrada na célula hospedeira. A proteína S possui duas subunidades que mediam a anexação celular: a subunidade S1 - composta de quatro domínios centrais S1A, S1B, S1C e S1D - e a fusão da membrana viral e celular (a subunidade S2). Potentes anticorpos neutralizantes frequentemente visam o local de interação do receptor em S1, desabilitando interações do receptor. As proteínas S do SARS-CoV-2 e do SARS-CoV (responsável pela pandemia de SARS em 2002-03) são 77,5% idênticas em termos de sequência primária de aminoácidos, são estruturalmente muito similares e comumente se ligam ao receptor proteico ACE2 presente na superfície celular de mamíferos, incluindo nossa espécie através do domínio S1B.

No novo estudo, os pesquisadores se aproveitaram dessa grande similaridade entre o SARS-CoV-2 e o SARS-CoV para procurarem por uma coleção de anticorpos produzidos por ratos transgênicos - capazes de expressar imunoglobulinas quiméricas possuindo traços humanos - que fossem eficientes contra o SARS-CoV. Na busca e após múltiplos testes experimentais, eles identificaram um anticorpo monoclonal quimérico - chamado H2L2 47D11 - que mostrou potencial de neutralizar o SARS-CoV-2. O 47D11 H2L2 quimérico foi então reformatado para uma imunoglobulina totalmente humana (47D11), e esta isolada.

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> Os anticorpos naturalmente produzidos pelo corpo de animais são conhecidos também como imunoglobulinas. No nosso caso, essas imunoglobulinas - constituídas por uma estrutura glicoproteica - são sintetizadas pelos linfócitos B e utilizadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar os antígenos (corpos invasores).
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Nos testes experimentais com o anticorpo 47D11, este mostrou se ligar ao domínio S1B e de forma muito eficiente, conseguindo neutralizar o SARS-CoV-2 em culturas celulares (células VeroE6). Nesse sentido, segundo os pesquisadores, esse tipo de anticorpo pode promover a limpeza viral em pacientes infectados ou mesmo proteger uma pessoa não-infectada que é exposta ao vírus. Essa capacidade terapêutica ou preventiva pode ainda ser otimizada com o uso de outros anticorpos.

Terapias convencionais usando anticorpos monoclonais são primeiro desenvolvidas em outras espécies e então precisam ser refinadas no sentido de serem "humanizadas", ou seja, ficarem o mais próximo possível das imunoglobulinas humanas. O 47D11 por ser completamente humano - mesmo sendo gerado em laboratório usando tecnologia transgênica - acelera o processo de desenvolvimento terapêutico e ainda reduz dramaticamente os efeitos colaterais imuno-relacionados.

Como conclusão do estudo, o anticorpo 47D11 - sozinho ou combinado - mostrou oferecer o potencial de prevenir ou tratar a COVID-19, e possivelmente outros doenças emergentes em humanos causadas por vírus do subgênero Sarbecovirus - do qual pertence o novo coronavírus.


(1) Publicação do estudo: Nature

Via: https://www.saberatualizadonews.com/

 

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